Negra Dalila poesias

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Sou aposentada da saúde ,sempre escrevi pequenos textos e frases desde minha infância ,leitora ,apaixonada por viagens, escrevo tudo o que sinto ,acredito em Deus ,e espero realmente que o mundo seja um lugar realmente melhor pra viver!

quinta-feira, 29 de julho de 2021

7.O Álcool como nossa testemunha

O pai e o alcoolismo

Desde muito cedo, eu sabia que meu pai era dependente químico, claro que não com toda essa clareza ,mas pela concepção de criança que tinha. Contavam que ele veio parar na capital, devido a uma beberagem junto ao seu padrão, que o debilitou e imobilizou por algum tempo. Mas aqui no sul, era comum ,o homem como ser macho e provedor da família podia beber, não era visto como uma doença nem visto como algo ruim, era uma forma de distração, sem calcular os riscos á família ,de tamanho hábito permissivo. As esposas se manteiam submissas as atrocidades dos maridos alcoolizados ou se rebelavam com discussões ,brigas e quebra quebra em casa. Mas tudo ficava entre quatro paredes, mesmo que os vizinhos soubessem do que ocorria ,permaneciam conivente com as atitudes machista que a sociedade impunha. Vi e vivenciei muitas destas brigas com meu pai alcoolizado. Por um determinado tempo, lembro de minha mãe pertencer a religião umbandistas, e a coisa que mais gostava ao acompanhá-la era comer as oferendas de balas e doces á Cosme e Damião. Meu pai não ficava nos festejos de inicio de ano na praia, ia para os bares ,onde havia snocker ,mulheres e música ,enquanto minha mãe fazia oferendas a Iemanjá .Ele costumava vir caindo dos botecos da vila, e era violento quando minha mãe reclamava de qualquer coisa, como falta de alimentos pra nós ou a falta de paciência com os filhos. Outra coisa que ele odiava era quando minha mãe se arrumava ou passava batom, ele a criticava ,dizia que ela queria aparecer, e como ela não era muito submissa ,a situação terminava em briga e quebra -quebra dentro de casa. O pai era muito bom servente, nunca faltava ao emprego, mas na saída do trabalho, principalmente as sextas-feiras ,ficava no bar até ficar sem dinheiro ou até voltar cambalhotando para perturbar o sossego de minha mãe. Minha mãe ,sempre foi muito amiga das vizinhas ,era sempre prestativa e tinha muitos afilhados, como "presente' de vizinha boa .Uma vez assaltaram ele no percurso até chegar em casa, e bateram muito nele, ele estava muito bêbado para reagir ou fugir, outra vez um carro o atropelou, ficou muito ruim, internado no hospital de pronto socorro, não tínhamos esperança de vida para ele. A mulher que o atropelou disse que ele ziguezagueava bêbado e surgiu do nada na frente do carro. Prometeu indenizar meu pai, pagar o seguro  ,o iludiu e nunca mais a vimos ,minha mãe chegou a contatar um advogado, não sabemos se ela não pagou ou se o advogado que emboçou o valor, sumiram os dois ,o advogado e a atropeladora. Minha mãe tivera mais umas das "crises de nervos", e não tomou pé da situação. Tão logo minha mãe faleceu, meu pai teve dois acidente vascular cerebral isquêmicos, em ambos os casos assim que melhorava ,e ficava de pé passava a ser novamente frequentador assíduo do boteco. Meu pai possuía uma deficiência na perna, uma perna mais curta que a outra, devido a sequela que ficou no acidente ainda em Tupanciretã, isso fazia com que, nos meus momentos de fúria com ele ou após alguma surra ,por algum motivo eu o chamava de coxengo , sempre que bebia ficava menos equilibrado ainda. Um defeito de personalidade do pai, era que a medida que bebia ia provocando mulheres, machista como só ele, era abusado ,além de ser mulherengo.Uma vez um parque de diversões se instalou no bairro ,e meus pais decidiram nos levar lá, estava radiante, queria ver tudo, conhecer tudo com minha mãe junto. De repente ,nos damos conta da falta do pai, ao procurá-lo encontramos na roda gigante com outra mulher. Não teve desculpa, minha mãe ficou aguardando embaixo, quando parou a roda gigante, o pai saiu abaixo de tapas pra casa. Foi um fiasco! Além de  tudo, nos finais de semana, havia jogatina ou nas casas de vizinhos ,em bares ou até mesmo na nossa casa, que fazia ele perder todo o dinheiro que havia conseguido pela semana de trabalho. Uma vez ele me apostou num jogo, e perdeu. E me tranquei no quarto , por que um amigo beberão queria namorar comigo ,eu teria sido "prometida pelo pai". Meu irmão chegou do quartel,interveio,e me levou pra morar com a tia, que acabou me criando na adolescência. O pai era um homem muito ruim, talvez como forma de se proteger ou pela  revolta que tinha com tudo que havia acontecido com ele,exarcebava na violência que tratava a família e os animais de estimação .Para os vizinhos ,passava por um senhor bem quisto e trabalhador. Uma vez, meu irmão ,ajudando meu pai a passar pinche quente num parquê que ganhamos doado para casa, ocorreu uma desavença ,pois meu irmão não estava fazendo como meu pai gostaria que fizesse, sem pestanejar ,deu um tapa na panela de piche quente, virando no pé de meu irmão, o lesionando com uma queimadura de terceiro grau. Odiava quando nos chamava e nós não o atendia imediatamente. Uma vez ,eu brincava com nosso cachorro e não atendi ao seu chamado, quando dei por mim ele chegou agarrando as patas traseiras do meu pequinês, e batia a cabeça do bichinho no muro ,até sangrar pelos ouvidos, eu implorava pelo perdão, mas enquanto ele não o matou ele não parou e afinal não justificou o por quê de tamanha judiação. Ele mesmo enterrou no pátio, e apontando o local pra que eu não esquecesse o que acontece com quem não lhe dava importância. Jamais esquecerei também, quando no segundo grau ,o professor exigiu que os alunos fossem ao cinema assistir o filme: "Memórias do cárcere" ,pois haveria prova no dia seguinte sobre o filme. Ao pedir á meus pais  para ir ,minha mãe prontamente concordou, e deu passagem,ingresso;mas chegando em casa bêbado meu pai não aceitou o desaforo, que filha dele não ia pra locais como esses ,como as vagabundas de rua. Minha mãe mandou eu ir, fiquei ouvindo a briga dos dois, em que meu irmão tentava apartar, até que meu pai forçava a gaveta das facas para matar minha mãe, mas não notava meu irmão segurando para que não abrisse a gaveta ,gritando pra mim ir de uma vez antes que o pai se revoltasse contra mim.Vi o filme arrependida, ao retornar parecia tudo calmo, mas ao olhar nos olhos de minha mãe e irmão ,tinha certeza que haviam apanhado, corri pro quarto ,de castigo, chorava culposa por ter provocado a ira do meu pai e fazer todos sofrer. Nunca mais falamos sobre isso, mas pra variar na prova, só respondi o suficiente pra não rodar de ano, tirando a média suficiente. Meus quinze anos ,minha mãe fez o possível para fazer festa.Infelizmente ,ela estava internada mais uma vez em um hospital psiquiátrico ,e recebeu uma autorização especial para "visitar" a casa ,e só assim, participar da minha festa de debutante, que como sempre ,tinha muita bebida e amigos bebâdos.Nunca ouvi de meu pai que me amava, pra ele ,eu e meu irmão erámos praga.Não havia demonstração de carinho, mas ele cansava de dizer, mesmo bêbado ,que tinha uma filha "muiê" pra cuidar dele quando ficasse velho. Ou seja, ele contava comigo,mesmo diante de tanto desamor na minha criação. 

sábado, 17 de julho de 2021

5.No tempo que não havia a lei do feminicidio

 A violência como parte da rotina

Desde que me conheço por gente ,convivi inteiramente com a violência. Lembro da brigas entre minha mãe e meu pai ,sempre acabava em socos ,tapas e pontapés , e principalmente quebra quebra em casa. Qualquer coisa era motivo , porque geralmente a maior razão para as brigas era a beberagem de meu pai ,que todo final  de semana se repetia . Durante a semana , as discussões estavam relacionadas a falta de dinheiro, alimentação e educação dos filhos ,a beleza de minha mãe ,enfim ,o motivo era o de menos ,mas sempre deixavam claro que a culpa era minha ou de meu irmão e sobrava pra nós. Uma situação muito dramática que  vivi com meu irmão, foi quando com cinco anos ,presenciamos uma verdadeira guerra em casa. Literalmente voava cadeiras, panelas, sobre nossas cabeças ,atiradas pela nossa mãe, no intuito de acerta-las no meu pai. Até que ele sem condições sequer de se manter em pé ,bêbado ,tentava  abrir a gaveta da pia da cozinha ;queria pegar uma faca para matar minha mãe ,mas não notou que meu irmão disfarçadamente a segurava firme no canto do balcão .O terror era que ,se o pai percebesse, nós dois apanharíamos no lugar dela. Havia um relho trançado ,pendurado na parede da cozinha ,erámos proibidos tirar do lugar ,mas toda vez que a pegavam sabíamos que ia pro lombo de um de nós dois. Uma vez o meu irmão ao ajudar meu pai a assentar parquê ,com pinche quente ,viu meu pai atirar o pinche no pé dele ,queimando-o ,por que os parquês não estava como ele mandou fazer. Em outra situação , estava brincando com meu cachorro, e não ouvi meu pai me chamar. Quando virei ,ele estava de pé ,agarrou meu cachorro e bateu várias vezes a cabeça dele no muro, eu gritava ,chorava, tentava tirar  o bichinho dele ,que rosnava de dor ,jamais esqueci a cena. Meu cão faleceu dois dias  após o ocorrido. A pior violência ,porém de meu pai era a violência moral .Tinha o hábito, de xingar ,dizer palavrões ,de humilhar minha mãe e eu ,minimizando o fato de sermos mulher ,era racista da própria cor ,menosprezava meu irmão por ser "de cor". Rezava para iniciar a semana e ir para o internato ,mas era só ilusão. Muitos castigos ,como ajoelhar no milho ,escrever 100 vezes uma palavra que havia errado na aula ,ou a palmatória por não ter feito direito o tema no fim de semana. Eu não era santa ,respondia de forma bruta a tudo que me diziam e ,não me dobrava pelo fato de ser a única negra e bolsista na congregação. Era considerada "problema ",na instituição. Então ,meu real alento ,era as vezes que ,era obrigada a passar na minha tia ,nas férias ,ou finais de semanas que minha mãe estava internada. Lá , realmente ,conversavam comigo ,me davam carinho, presentes ,faziam me sentir gente ,me tratavam igual ao meu primo ,eu até me confundia ,e pedia pra que minha tia e tio fossem meus pais. Mas  os dias passavam e tudo voltava a rotina .Na época que não havia a lei do feminicidio ,havia muito machismo ,onde a mulher se calava ,a justiça cegava e o homem imperava.


sexta-feira, 16 de julho de 2021

4 .Minha mãe e a enfermagem (minha inspiração )

 Trabalho amador

       No crepúsculo vespertino de mais um dia ,na  periferia da cidade ,década de oitenta, dois vultos descem a lomba ...minha mãe  e eu. No intuito de cumprir mais um compromisso assumido por minha mãe com a comunidade, eu,  me sentia orgulhosa em acompanhá-la. Não havia outro jeito, já que não havia ninguém que ficasse comigo em casa, então ela me levava para o seu trabalho voluntário. Minha mãe havia feito um curso básico de enfermagem, e se tornara voluntária da cruz vermelha, uma instituição filantrópica conceituada na época e único alívio para os doentes  da minha vila. Nas visitas que minha mãe fazia, ela colocava em prática tudo que aprendera no curso, como: aplicações de injecções,vaporizações,curativos,além de ser conhecida por suas rezas e benzeduras ,fazia xaropes , chás e infusões caseiros. Ela costumava ter em sua maleta: pomadas,emblastos,gases,um estojo de alumínio que possuía agulhas e seringas de vidro que fervia antes de sair de casa para o caso de ter que usá-la em algum "paciente adoentado". Raras vezes, ela encaminhava para o posto de saúde ,quando sabia que não poderia sanar o problema sem que o médico examinasse, o que era geralmente reclamado pelo vizinho, pois acreditavam nos cuidados de minha mãe .Eu tinha por volta de 6 anos de idade e adorava acompanha-la, observava seu carinho ,sua atenção ,o zelo que tinha ao fazer aquele trabalho. Confidenciei uma noite, que gostaria de trabalhar como ela. Então ,ela fez um estojo de pano a mão onde eu guardava botões (no formato de comprimido grande), tecidos quadrados (no formato de gases),seringas velhas sem condição de uso, e 1 agulha estéril ,além de folhas de plantas ,das quais eu brincava de fazer chazinho com água fria. A minha "brincadeira" preferida era de ser enfermeira, minhas bonecas de pano  recebiam injecções,fazia chás imaginários para receber minhas amiguinhas, curativos de fraldas no meu urso feito á mão por minha tia, e  fazia a limpeza de ferimento dos amigos do meu irmão que viviam caindo da bicicleta. A maioria dos vizinhos costumavam inventar estórias para seus filhos ,sobre uma bruxa malvada que picava as crianças a noite ,normalmente nunca ficavam sabendo que na verdade era minha mãe que aplicava injeções de menta ou oleosa .Algumas mães convencia seus filhos  que a fada preparou o xarope pra que ele melhorasse e mesmo que fosse amargo, elas acabavam tomando. Sendo que na verdade, minha mãe havia preparado. Minha mãe me observava e me incentivava orgulhosa ,dizia que eu levava jeito para enfermagem, pois eu geralmente consolava as crianças medicadas com paciência  e ternura. Porém ,minha mãe morreu jovem, devido á um infarto fulminante, e não pode ver que ,hoje ,exerci a profissão de técnica de enfermagem ,colocando em prática tudo que vi ela fazer. Na verdade ,eu descobri que aquele "trabalho amador" da infância ,serviu como base para exercer a profissão que amo e tenho muito orgulho.

Porque enfermagem?

fazer parte da enfermagem ,
 

implica em dedicação

é servir a alguém como um irmão!

Ser da enfermagem

é mais que ter uma profissão.

É responsabilidade sem perder a emoção

é simplismente cumprir uma missão:

                                                           se alguém chora ;

💙💙💙                                            posso      acalentar,

                                                           se dói em você agora ;

                                                           seu tormento posso aliviar .

Se precisa de alguém urgente,       

procuro me fazer presente                   💙💙💙💙

pra poder te ajudar.

                                                   Se não sabe bem o que fazer 

                                                                    não procure á toa 

        💙💙💙💙                                     faça por merecer ,

por que enfermagem é pra gente boa!        💙💙💙

                                                            Negra Dalila

                                         (encontro de enfermagem-2011)

terça-feira, 13 de julho de 2021

3.Louca ,Nervosa ou deprimida -A doença desconhecida dos anos 80

3.A doença de minha mãe

 Nunca consegui entender na minha infância , que doença era aquela que minha mãe sofria .Muitos a chamavam de "louca" ,outros de "doente dos nervos", alguns familiares me explicavam que ela teria recaído no último parto. Ela tinha "crises" e perdia a razão .Acabava internada em hospitais psiquiátricos ,que a deixavam ,mais agitada ainda. A primeira vez que notei que havia algo de errado ,minha mãe teria invadido uma rádio popular , pulou o balcão para conhecer o locutor que era muito querido na cidade ,principalmente por fazer caridades no seu programa ,expulsa daquele local ,fez diversas compras como: gaita ,estante ,e um carro ,tudo financiado ,com juros altíssimos da época e sem nenhuma burocracia para tal. Nossa tia, conseguiu intervir naquelas compras absurdas ,interditando suas ações ,com argumentos jurídicos e atestados médicos que comprovavam sua falta de lucidez ,evitando assim ,problemas legais com as lojas . No período escolar , comecei a observar que não era só porque estudava em uma escola de freiras ,em regime de internato ,que não via minha mãe ,por longos períodos .Raras vezes , eu ia no final de semana para casa .Muitas vezes ia pra minha tia Rosa Maria nas férias ,finais de semanas e a desculpa era por causa da "doença ",que mais uma vez estava internada ,e não conseguia aprender , nem conversar muito com ela ,ou seja ,sabia que era minha mãe ,mas não tinha carinho maternal por ela, somente a respeitava .Eu a via como mulher trabalhadora ,era extremamente ativa , amiga das vizinhas , madrinha de muitas crianças da vila ,e isso parecia um bom sinal , alfabetizada ,eventualmente escrevia ou recitava poesias ,amava cozinhar ,ótima cozinheira ,confeiteira ,boleira ,dona de casa exemplar .Minha mãe era muito religiosa ,participava das missas católicas nos domingos ,das novenas ,sempre que possível nos levava ,a mim e meu irmão .Também não deixava de participar das festas umbandistas na praia de inicio de ano ,chegávamos lá por intermédio de excursões com os vizinhos ,o que pra mim era uma farra ; ela foi doméstica numa  família de classe alta da cidade ;trabalhou com sua irmã  Rosa no bar que possuía ,e em várias lancherias (lunik era uma delas) e foi cozinheira na Procergs .Era branca ,bonita ,mas impedida de passar um batom pelo meu pai ,apesar que não precisa disto para ficar bonita .Com o uso de medicação ,passou a engordar e se descuidava ,apesar de ser vaidosa ,por que estava sempre trabalhando e com medo de meu pai .Tinha cadernos de receitas ,de anotações ,e de textos e poesias ,inteligente ,calculava todas as despesas que tínhamos ,tentava incentivar o Daniel a estudar ,mas era mais esperançosa comigo .Tinha  opinião formada das coisas era brava quando contrariada ,inclusive enfrentava a agressividade do pai .Era submissa toda vez que estava sobre efeito de medicação ,ao que o pai abusava. Uma vez, pedi a ela  pra me ajudar no tema de casa .Descobri a poeta que era ,pois juntas, cada uma fez um verso ,e a poesia foi recitada por mim  no pátio da escola ,por ter ficado entre as três mais votadas ,para ser lida ,no sete de setembro. Fiquei muito emocionada ,por ter feito algo junto a ela ,me encheu de orgulho declamar a seguinte poesia :



Depressão -A doença da minha mãe

 


segunda-feira, 5 de julho de 2021

2.A vida conturbada de minha mãe

   Minha mãe ,Julieta, casou-se jovem ,cheia de ilusões ,sonhadora .Não conseguiu terminar o primário ,por que ,precisava ajudar em casa .A festa foi muito grande ,regada a churrasco campeiro a vontade, muita bebida e doces .Casaram na igreja católica ,pois minha mãe era muito religiosa. Engravidou de meu irmão na pequena cidade ,e ganhou seu filho em parto normal ,em casa ,com ajuda das avós .Meu pai se tornara uma espécie de "faz tudo" de um produtor da região ,de motorista particular ao trabalho agrícola e com gado .Se tornaram grandes amigos ,inclusive sr. Carlos me batizou e foi meu padrinho .Uma tarde ,após a lida ,foram de carro para um bar  ,muita bebedeira depois ,sr. Carlos insistiu em dirigir .Preocupado meu pai resolveu acompanhá-lo .No trajeto se acidentaram ,meu pai ficou muito machucado ,a orientação dos médicos era trazê-lo para capital em busca de mais assistência médica .Estava parcialmente paraplégico ,e com muito poucas chances de se recuperar .Então começa o martírio de minha mãe. Como boa esposa veio para Porto Alegre em busca de recurso para ajudá-lo , com os dois filhos ,meu irmão com seis anos e eu com um pouco mais de um ano e meio .Para facilitar sua instalação na nova cidade ,minha mãe resolveu me deixar aos cuidados de minha tia Rosa ,que na época tinha mais condições financeiras de cuidar de mim .Meu irmão ,na Vila Nova ,bairro da periferia  ,local onde minha mãe conseguiu uma casa para alugar ,uma vizinha o "reparava" ; mas na maior parte do tempo o Daniel era "menino solto" na vila .O dinheiro da venda do gado e terras ,fez com que minha mãe comprasse um terreno na Lomba do Pinheiro ,que foi loteado pelo sr.Acrysio e família ,saímos da Vila Nova .Minha mãe buscou o Daniel e me buscou na tia .Iria morar num local que seria dela ou nosso ,fazia planos e um enxoval bordado por ela para a casa nova que pretendia reformar...O local onde iriamos morar era uma casa mista. Na peça principal ,tinha um mercado feita  de alvenaria ,assim como o banheiro. As demais peças eram de madeira ,e todas precisavam de reformas, o pátio era enorme, tinha muitas árvores frutíferas, meu pai deu alta com problemas de locomoção ,uma perna menor que a outra ,o que deu a ele o apelido de coxengo ,resolveu trabalhar como servente de obras, pra tentar ajudar a nossa mãe .Ela trabalhava como doméstica em uma família renomada na cidade. A casa de alvenaria, foi sendo feita aos poucos, em mutirão com os vizinhos. Todo mundo ajudava com o que sabia fazer , sem engenheiros ,ou mestres de obras mas regado a muita cachaça e churrasco enquanto minha mãe trabalhava incansável para comprar os materiais de construções ,meu pai se preocupava em comprar enfeites para casa ,ou discos para seu toca disco ,cujo hobby era escutar músicas com amigos jogando cartas á dinheiro nos finais de semanas ,nos deixando as vezes ,sem ter o que comer ,na semana que se seguia.

Para frente


 

domingo, 4 de julho de 2021

Negra Dalila em poesia....


 

1.A vida no campo

Nasci em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul ,chamada Tupanciretã ,seu nome em tupi guarani significa Terra (retã)da mãe(sy)de Deus(Tupã),cidade emancipada a menos de 100 anos ,e considerada a capital da soja ,devido a sua produção e a participação em movimentos a favor da soja transgênica .Tive sorte ao nascer no hospital de caridade Brasiliana Terra ,que teria sido inaugurado 33 anos antes do meu nascimento .Não se tem conhecimento de quando exatamente surgiu a ala da obstetrícia e berçário.Minha mãe tinha dois irmãos e duas irmãs ,ao todo, eram cinco: minha mãe, as tias Eva e Rosa Maria ,e tios Abílio e Adão. Os meninos auxiliavam meu avô com a lida do campo ,gado e criação de animais .Minha avó materna Gomercinda era dona de casa ,quatorze anos mais velha que meu avô Felipe ,rigorosa com os filhos ,era muito bem disposta para cuidar da lavoura e da casa, mas ao longo dos anos adoeceu ,provavelmente tinha Alzheimer ,fazendo com que tivesse movimentos repetitivos de passadas e nos braços ,morreu de enfisema pulmonar aos 90 anos de idade .As meninas ajudavam em casa ,mas parte da adolescência delas, foram sozinhas na capital , no intuito de estudar ,moraram de  "favor" na casa da tia delas: Adelaide ,que aproveitava a estadia delas para explorar trabalhos que feitos por outrem certamente seriam cobrados .Meu avô era muito bem humorado ,tinha uma alegria fascinante ,gaiteiro ,mas possuía o hábito de beber ,quando jovem mas com o passar dos anos largou o vicio ,era a pessoa mais dedicada a minha avó ,carismático ,amava crianças e principalmente os netos muito trabalhador ,morava numa linda e enorme chácara que era a alegria da família ,com muitas arvores frutíferas e plantações ,tinha uma casa simples ,recebia muitas doações dos vizinhos .A família de meu pai era muito extensa ,nunca soube-se ao certo o numero de irmãos {Ulisses ,Carlos ,João ,Marisa (irmã de criação),Armando.}, minha avô Dalila ,oferecia seus filhos a pessoas que tinham mais condições de cria-los. Foi o caso de meu pai ,que tão logo nasceu ,foi levado por uma família alemã (sua mãe de criação era a Gasparina) ,que escravizou meu pai ,fazendo limpar casa ,pátio, cuidava do gado ,e se juntava aos porcos para se alimentar .Porém de tanto trabalho ,acumulava "uns tostões" que propiciaram a comprar um pequeno gado ,e um pequeno terreno em Tupã .Numa visita de minha mãe ,saudosista a seus pais, apaixonou-se por meu pai. Jovem branca ,sonhadora achou que aquele trabalhador com "posses" poderia ser a solução dos seus dias de pobreza e que sua  escravidão acabaria .De bom grado ,meu avô aceitou o casório, é numa grande festa se deu o enlace matrimonial. As gestações de minha mãe ,sempre ocorreram em casa ,por morar no interior da cidade ,o acesso ao posto e pré natal era inviável .Na época do meu nascimento era comum ,as gestantes  conceberem seus filhos em casa com auxilio de mães ,avós ou alguma conhecida que já havia feito partos .Isso ocorreu com meu irmão mais velho ,o Daniel ,que nasceu em casa com auxilio de minhas tias ,vó e bisavó.

💕💕💕 Negra Dalila💕💕💕

Negra Dalila surgiu assim,

queria ser feliz do princípio ao fim,                               

ter pensamento com sensibilidade,

enfrentando sempre a adversidade.

Negra Dalila é misteriosa,

mãe, amiga, amorosa,

negra, forte, glamorosa.

Atenta a todos horizontes,

faz das retas, lindos montes.

Negra Dalila sempre existiu,

e da vida pouco exigiu.

Procuram por ela, sempre paciente,

acredita em Deus e toda a gente,

muitas vezes parece até ser inocente.

Negra Dalila, por vezes, escritora

ora poeta.

Por vezes relapsa, ora atleta.

É um misto de fases,

com versos, rimas e frases.

não aceita o meio termo,

com ela, é nada ou todo, por inteiro.

Cede o lugar a quem merece,

mas não aceita quem se prevalece.

É difícil me entender,

Mas estou sempre pronta a aprender ,

Ninguém me compra com dinheiro,

Só me interesso por sentimento verdadeiro.

                                      

                                                         Negra Dalila.

sábado, 3 de julho de 2021

A coragem de se expressar

 No ano de 2020,com advento da pandemia ,me acovardei com tamanha notícia do vírus voraz que acabaria por matar milhares de pessoas.Há vinte e sete anos ,trabalhando na saúde, num mesmo grupo hospitalar absolutamente público e apaixonada por exercer a profissão  de técnica de enfermagem na pediatria ,me senti pressionada a desistir de continuar lutando contra o vírus da Covid.Questões como o risco de contaminar meu pai,já bastante debilitado pelo câncer, ou de infectar meu neto e até  mesmo as dúvidas sobre essa nova doença e incertezas de cura da mesma,fez com que me aposentasse e me retirasse do meu local de trabalho.Num período muito difícil para toda humanidade ,com perdas de empregos,redução de aglomerações, lojas e shoppings fechados,horários reduzidos de funcionamento de setores essenciais como transporte,fiquei como todo mundo isolada com a familia.O que fez vir a tona uma antiga paixão  da infância:escrever poesias e relatar em páginas o que estava sentindo ou vivendo.Esse blog retrata essa fase nova ,onde quero apresentar a vocês minhas poesias e textos, que foram escritos desde minha infância, alguns datados ,outros não, mas todos com um enorme significado na minha vida.Espero que curtam,elogiem ou até critiquem mas de forma construtiva para que possa aperfeiçoar minha escrita.É um novo desafio que agora,aposentada ,deixo de recordação para quem aprecia poesia e textos!

Associação Poemas á Flor da Pele -3 anos de muitas poesias

  Ano 2021     Volume 15 Ano 2022 Volume 16 Ano  2023   Volume 17 Ano 2024 Volume 18 Em Portugal _Feira do livro de Lisboa