Negra Dalila poesias

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Sou aposentada da saúde ,sempre escrevi pequenos textos e frases desde minha infância ,leitora ,apaixonada por viagens, escrevo tudo o que sinto ,acredito em Deus ,e espero realmente que o mundo seja um lugar realmente melhor pra viver!

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

9.Os casarões na minha infância: Internato X hospitais psiquiátricos

 Parte 1 :O internato

Eu  tinha uma tia em segundo grau ,que era freira ,a irmã Paula, na congregação Nossa Senhora Aparecida .Meu contato com ela era restrito ,pois poucas vezes ficava na capital. Por intermédio dela, ganhei meia bolsa de estudos na Escola Rainha do Brasil ,e fui interna na congregação ,com a finalidade de ter uma boa educação ,neste local eu ficaria de segunda a sexta-feira ,só voltando pra casa aos finais de semanas e férias .Pra mim ,representava uma prisão educacional da qual eu não podia fugir .A congregação era um prédio lindíssimo atrás da escola ,um ar de prédio europeu ,a entrada principal era uma sala de espera ,muito bem mobiliada com móveis antigos ,e quadros com retratos de santos e freiras .A medida que adentrávamos no prédio descobria várias salas ,consultório ,escritórios, locais proibidos para internas ,porões ,absolutamente encerados ,lustrosos o chão ,tudo muito limpo ,cheirava a velho mas um odor  agradável de avós, de antiguidade com naftalina .As irmãs(era assim que nós a chamávamos) tinham um ar de recatadas e submissas, mas ao mesmo tempo, algumas, me lembravam a bruxa má da Bela Adormecida .Achava que debaixo daquele hábito ,tinha alguém revoltada com a condição de solidão que se submetiam .O dormitório tinha umas cinquentas camas ao lado pequenos bidês dividiam uma cama da outra ;vários  banheiros e chuveiros no vestiário ,uma grande pia ,com torneiras para escovação de dentes e uma pequena peça ,que servia de quarto para a irmã que nos cuidava a noite .Frequentemente essa irmã colocava num toca-discos pequeno , com músicas religiosas para que dormíssemos mais rápido .Era proibido pra nós mexermos ,ou entrar nesta peça .Haviam locais proibidos para internas percorrerem como  os aposentos das demais religiosas ,o que fazia que acreditássemos que havia um túnel que unia o prédio do internato ao outro lado da rua ,onde havia o prédio de seminaristas masculinos e que as nossas freiras fossem pra lá á noite para namorar .Claro que isso era fruta da imaginação de menores muito criativas .A sala principal era linda ,haviam quadros ,tapetes ,e estátuas de santos e santas por todo o corredor que nos levava as escadas .Um andar acima um salão enorme ,eventualmente faziam recreação conosco ,ou aulas como : violão ,canto ,piano ,mas eventualmente era um salão de festas .Não me lembro de nenhuma festa naquele local ,a não ser o dia em  que escolheram um pequeno grupo de meninas para encerar o chão ,eu estava neste grupo .Com os pequenos panos que nos ofereceram, brincamos de sentar em cima dos panos e uma puxar a outra até largar escorregando a que ficava sentada sobre o chão do salão ,mas esta festa não acabou bem ,pois umas das meninas mais "lentinha" ,acabou batendo de cara na parede e perdendo um  dente ,foi castigo para todas ,inclusive da amiga recém  desdentada. Fiz canto e odiava a didática da matéria ,gostava mesmo de cantar ,fazia de tudo para iniciarmos á prática .Descendo dois andares ,no térreo era o local do refeitório ,com suas mesas e cadeiras ás vezes separadas ,ou algumas vezes juntas como em um quartel  interligada a ela ,uma enorme peça com uma pia de 3 cubas ,vários armários para guardar louças e panelas ,junto a uma grande cozinha com fogão industrial ,refrigeradores ,freezer ,uma despensa que só pessoas autorizadas podiam entrar .Nós mesmo lavávamos a nossas louças .Somente a preparação do alimento eram feitos por freiras e seminaristas ,por ser adultas .Havia banheiros neste andar ,junto á uma sala de estudos ,com uma linda biblioteca ,cujo a maioria dos títulos estava ligada a religião ,uma sala da coordenação do internato ,ligado a sala pedagógica que tinha muitos brinquedos como "gênius", "cinco marias" ,"varetas" e outros. Geralmente ,recebiam as internas na porta do refeitório ,e não pela porta central .Antes de qualquer refeição erámos obrigadas a rezar e a comer tudo .Era castigo na certa quem se recusava a comer ou deixar no prato .Descendo as escadas, no porão ,havia a lavanderia ,banheiro ,e uma quadra de esportes ao ar livre .Rente ao prédio inúmeras salinhas ,que usavam para aprender balé ,teoria de esportes ,e uma grande quantidade de materiais esportivos .Finalmente ,havia uma área enorme de terreno ,onde tinha plantações agrícolas ,árvores frutíferas ,que eram consumidas por todas nós ,flores e jardim .Por um determinado tempo ,meu pai foi o jardineiro dali ,foi muito difícil pra mim ,que além de ser a filha do jardineiro ,tinha  bolsa de estudos para ali estar e a única menina da raça negra ,e isso me deu  muitos problemas .No outro lado do terreno havia dois prédios :um com dois andares ,limítrofe a rua da escola ,onde estudavam alunos do ginasial e uma  quadra de esportes coberta ,uma pequena pracinha com bancos e uma árvore ,uma cantina ao centro ,e abaixo uma pré escola com os estudantes infantil até quarta série .Todos os prédios separados  com espaço suficiente para fazer as filas de entrada até a sala de aula. Na escola ,podiam frequentar meninos ,e alunas que não fossem do internato ,sendo esse nosso alento ,pra ver crianças comuns ,que não tinham tanto deveres ,como nós tínhamos .Conhecida por apelido de "internas". Não podíamos fazer nada de errado ,tínhamos que ser exemplo de boa educação ,era importante para angariar futuras internas ,era obrigatório tirar boas notas ,eu sempre me mantinha na média ,mas passava de série .Na época ,as pessoas me olhavam com pena ,inclusive as meninas do internato ,e não demorou muito pra mim começar a aprontar como forma de me defender ."a filha do jardineiro ",não podia gastar na cantina ,era muito quieta ,devia estar escondendo algo ,não tinha materiais escolares bonitos ,era pobre ,pegava piolhos...Na medida que crescia ,isso ia me revoltando ,e me juntava com as mais arteiras para fazer travessuras .O resultados eram castigos dos mais leves aos piores que haviam .Não me importava com esses castigos apesar de doloridos ,mas o que me deixou furiosa, foi o dia que uma seminarista  disse que achou piolhos no meu cabelo e as irmã os cortaram  muito baixinho ,o que me apelidaram de nega pixaim ,cabelo ninho de pássaro...Uma vez na sala de aula ,a professora me chamou atenção sobre um giz que atiraram nela ,fui acusada injustamente , arquei levando 20 palmatórias na  mão para aprender a não fazer isso ,se por acaso , não conseguia escrever algo ,tinha que escrever 300 vezes até aprender na hora do recreio ,acabava ficando sem o lanche de 15 minutos. Já no internato, me juntei a Maria do Carmo ,ela era muito agitada , juntas ,amarramos os pijamas nas cabeceiras das camas das nossas inimigas ,na hora da escovação dos dentes ,para demorarem mais ao se vestir e a irmã dar um pito em cada .Na hora de dormir, formou-se a confusão ,pois havíamos trocados os pijamas das camas certas ,ficou fácil sermos castigadas ,passando a noite com o escovão lustrando as salas de todo internato ,pois as únicas com pijamas certos erámos nós. Pegamos bolinhos a mais no refeitório e escondemos pra comer depois ,dei um tapa no rosto de uma menina no porão ,logo depois da freira pedir pra fazer as pazes ,e os castigos geralmente eram :encerar o salão da festa ,passar o escovão a noite toda ,sem dormir no corredor de entrada(descobri o por quê aquele corredor era tão lustroso),ficar o final de semana sem ir para casa ,palmatória ,ajoelhar no milho ,chamarem os pais e expulsão por desobediência .Costumo dizer ,que a verdadeira educação que recebi foi do internato ,elas me ensinavam a ser obediente ao marido ,aprendi a coser ,bordar ,técnicas domésticas ,balé ,línguas ;mas da vida tive que aprender sozinha ,de ter opinião e ser corajosa foi uma forma de defesa.


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