Negra Dalila poesias

Minha foto
Sou aposentada da saúde ,sempre escrevi pequenos textos e frases desde minha infância ,leitora ,apaixonada por viagens, escrevo tudo o que sinto ,acredito em Deus ,e espero realmente que o mundo seja um lugar realmente melhor pra viver!

sábado, 17 de julho de 2021

5.No tempo que não havia a lei do feminicidio

 A violência como parte da rotina

Desde que me conheço por gente ,convivi inteiramente com a violência. Lembro da brigas entre minha mãe e meu pai ,sempre acabava em socos ,tapas e pontapés , e principalmente quebra quebra em casa. Qualquer coisa era motivo , porque geralmente a maior razão para as brigas era a beberagem de meu pai ,que todo final  de semana se repetia . Durante a semana , as discussões estavam relacionadas a falta de dinheiro, alimentação e educação dos filhos ,a beleza de minha mãe ,enfim ,o motivo era o de menos ,mas sempre deixavam claro que a culpa era minha ou de meu irmão e sobrava pra nós. Uma situação muito dramática que  vivi com meu irmão, foi quando com cinco anos ,presenciamos uma verdadeira guerra em casa. Literalmente voava cadeiras, panelas, sobre nossas cabeças ,atiradas pela nossa mãe, no intuito de acerta-las no meu pai. Até que ele sem condições sequer de se manter em pé ,bêbado ,tentava  abrir a gaveta da pia da cozinha ;queria pegar uma faca para matar minha mãe ,mas não notou que meu irmão disfarçadamente a segurava firme no canto do balcão .O terror era que ,se o pai percebesse, nós dois apanharíamos no lugar dela. Havia um relho trançado ,pendurado na parede da cozinha ,erámos proibidos tirar do lugar ,mas toda vez que a pegavam sabíamos que ia pro lombo de um de nós dois. Uma vez o meu irmão ao ajudar meu pai a assentar parquê ,com pinche quente ,viu meu pai atirar o pinche no pé dele ,queimando-o ,por que os parquês não estava como ele mandou fazer. Em outra situação , estava brincando com meu cachorro, e não ouvi meu pai me chamar. Quando virei ,ele estava de pé ,agarrou meu cachorro e bateu várias vezes a cabeça dele no muro, eu gritava ,chorava, tentava tirar  o bichinho dele ,que rosnava de dor ,jamais esqueci a cena. Meu cão faleceu dois dias  após o ocorrido. A pior violência ,porém de meu pai era a violência moral .Tinha o hábito, de xingar ,dizer palavrões ,de humilhar minha mãe e eu ,minimizando o fato de sermos mulher ,era racista da própria cor ,menosprezava meu irmão por ser "de cor". Rezava para iniciar a semana e ir para o internato ,mas era só ilusão. Muitos castigos ,como ajoelhar no milho ,escrever 100 vezes uma palavra que havia errado na aula ,ou a palmatória por não ter feito direito o tema no fim de semana. Eu não era santa ,respondia de forma bruta a tudo que me diziam e ,não me dobrava pelo fato de ser a única negra e bolsista na congregação. Era considerada "problema ",na instituição. Então ,meu real alento ,era as vezes que ,era obrigada a passar na minha tia ,nas férias ,ou finais de semanas que minha mãe estava internada. Lá , realmente ,conversavam comigo ,me davam carinho, presentes ,faziam me sentir gente ,me tratavam igual ao meu primo ,eu até me confundia ,e pedia pra que minha tia e tio fossem meus pais. Mas  os dias passavam e tudo voltava a rotina .Na época que não havia a lei do feminicidio ,havia muito machismo ,onde a mulher se calava ,a justiça cegava e o homem imperava.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Associação Poemas á Flor da Pele -3 anos de muitas poesias

  Ano 2021     Volume 15 Ano 2022 Volume 16 Ano  2023   Volume 17 Ano 2024 Volume 18 Em Portugal _Feira do livro de Lisboa