Negra Dalila poesias

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Sou aposentada da saúde ,sempre escrevi pequenos textos e frases desde minha infância ,leitora ,apaixonada por viagens, escrevo tudo o que sinto ,acredito em Deus ,e espero realmente que o mundo seja um lugar realmente melhor pra viver!

terça-feira, 3 de agosto de 2021

8.A tia -mãe na minha vida

 Minha tia, irmã mais velha da minha mãe, Rosa Maria ,tinha tido mais uma hemorragia uterina, mais uma perda de um feto, menos uma esperança de um (a) herdeiro(a) .Ela Ela é  batalhadora e junto ao meu tio Orocildo faziam doces ,bolos e salgados ,além de manter um comércio de lanches e bebidas ,num local bem conceituado no centro da cidade. Ela sempre foi a orientadora das suas duas irmãs ,talvez por ser a mais velha, ou por ser a mais corajosa desde a adolescência, enfrentaram primos e primas com força ,toda vez que uma delas fossem discriminadas, passaram por muitos perrengues ,sozinhas, na cidade grande ,mas permaneciam unidas. Com todos os infortúnios que havia acontecido com meus pais  no interior. As minhas tias , incentivaram minha mãe para  que viessem para a cidade grande ,pois haveria realmente mais recursos  nos hospitais .Acreditavam que poderiam também ajudar no que fosse possível tia Rosa ofereceu emprego no bar para minha mãe e tia mais nova ,desconheciam a violência que minha mãe passava com meu pai ,mas desconfiavam que acontecia. Ela foi sempre presente nas internações e recaídas de saúde de minha mãe. E eu amava estar com ela, pois eu podia ajudar no restaurante, na hora que ela fazia as encomendas, os passeios eram poucos e bons, deixava eu lambuzar os dedos com as guloseimas e experimentar os seus quitutes, o melhor presente natalino, ovo de páscoa ou de aniversário sempre vinha dela .Me sentia muito amada .Mas ela também  sofria com o marido ,era uma mulher bonita ,que chamava atenção dos frequentadores do bar ,provocando involuntariamente  ciúmes de meu tio ,que geralmente brigava com quem se atrevia a mexer com ela .Fui muito bem aceita por eles com um tratamento equivalente a filha, recebia atenção do meu tio Orocildo ,que apaixonado por criança ,e pela  vontade de um dia vir a ter filhos ,me tratava com todos os mimos possível ,passeava comigo ,até brigava se alguém dissesse que eu era negrinha demais para ser sua filha .Minha mãe  conseguiu o emprego de doméstica ,afinal ,precisava viver com sua família na cidade grande ,mas nesta casa não permitiam que criança acompanhasse ,então ela pediu que a minha tia me cuidasse ,que aceitou sem pestanejar ,pois já tinham um carinho muito grande por mim  mesmo quando ela conseguiu engravidar e com dois anos de diferença ,nasceu meu primo ,Emerson .As cantigas da tia Rosa passou a ser para os dois ,mas não sei por que ,eu sempre me sentia mais da família dos Gonçalves ,do que da família Oliveira .Não via o meu primo como ameaça por ser menina .Ele era um bebezinho muito gordinho ,e lindo .Havia ,na época uma propaganda de perfumaria infantil ,com bebês gordinhos e fofinhos .O Emerson podia ser modelo desta marca por ter todos esses atributos .Ele adorava  comer ,vivia beliscando uma coisa e outra ,nos bailes de carnaval sempre ganhava no quesito fantasia como rei momo ,e como eu o acompanhava o brilho dele me tornava especial ,já que eu era a amiga do menino rei momo ,ou seja ,me sentia a princesa do rei .Mas eu entendia que ele era o filho e por isso na nossa adolescência não fomos os melhores amigos ,ou confidentes ,sentia uma diferença de status e opiniões ,ás vezes nem eu sabia quem eu era ,se da vila ou do colégio particular ,se da mãe Julieta ou da tia mãe Rosa ,se  meu irmão era o Daniel ,ou se podia considerar meu primo como irmão .A única coisa que não mudava era o tratamento carinhoso do meu tio e da tia ,que mesmo com muito trabalho ,sempre se preocupavam com a gente .Uma vez ,meu tio ,sócio do Cantegril ,quis levar a família para um pouco de lazer ,mas disseram pra ele que não poderia entrar comigo ,pois não havia documento que provasse que eu era filha dele. Então ele brigou muito, disse que não iria mais pagar as mensalidades de sócio , se eu não entrasse ,no final ,resolveram abrir uma exceção por ele ser um empresário bem quisto .Por outro lado ,no mesmo clube ,na pracinha ,sem querer me embalava com tamanha força ,que parecia que meus pés alcançariam as nuvens ,e meu primo correu por trás do meu balanço ,exatamente quando eu retomava o embalo ,batendo a ponta da tábua ,na testa dele, ferindo-o .Era muito sangue ,imediatamente meu tio ,nos pegou e correndo ,levou-o para o hospital ,seu desespero me angustiou ,e me senti culpada e temerosa que meu primo morresse ,chorei compulsivamente ,achando que meu tio jamais me perdoaria .Alguns pontos na testa depois ,meu primo se encontrava em casa ,e meus tios ,fazendo todas as vontades dele ,e eu respirava aliviada .O único registro que tenho que comecei deste cedo a escrever foi guardado com muito zelo pela minha tia Rosa Maria .Eu  habitualmente escrevia um diário .Não lembro de escrever neste diário na casa  dos meus pais ,ou na escola .Nem mesmo o nascimento de meu primo ,mudou a nossa relação sempre foi de muito amor .Gostava muito de meu primo ,não vou negar ,que estando com ele ,conseguia usufruir os mesmo luxos que meus tios proporcionavam. ,era felicidade sempre ,mas sempre voltava para meus pais ,ficava bem claro quem realmente era minha mãe e minha família. A situação da saúde de meu pai melhorava aos pouquinhos ,mas a vida pra minha era muito cansativa  ,pois ela trabalhava em casa de família ,corria atender meu pai ,corria pra ver meu irmão e ainda saber de mim .Então teve a primeira "crise dos nervos" ,que levou ela a uma internação psiquiatra .Os médicos acreditavam que foi devido ao parto ,que possivelmente ela não devia ter se resguardado como devia ter feito ,devida a correria de sua vida ,ou seja, ela teria tido uma recaída tardia pós parto .Em cada "crise" que sofria eu ficava aos cuidados da minha tia .O pai precisava de cuidados ,e se mantinham com o beneficio oferecido pelo governo .Mas assim que o pai ficou de pé sozinho ,procurou os botecos e as bebidas ,enquanto minha mãe estava grávida novamente. Meu irmão mais novo Claudiomiro ,nome em  homenagem do pai a um jogador do seu time o Internacional, nasceu saudável ,porém iniciou com diarreia e vômitos ainda bebê .Precisou internar e acabou indo a óbito .Na necropsia ,foi descoberto que ele era alérgico ao leite de vaca. Convivemos com a pouca presença dele por dois anos de vida ,pois ficou muito tempo internado .Mais uma internação de minha mãe ,devido ao óbito do filho. Mais uma vez eu passando os finais de semana na minha tia. Apelidei minha tia de tia-mãe ,pois conversava com mais naturalidade com ela, não tinha medo de perguntar nada, sabia que ela não iria me bater e sim me dizer o que era certo ,e seu marido  era um grande homem, o achava forte ,respeitoso ,amigo e carinhoso. A ponto de achar que a tia ficava enciumada de nós ,mas era  engraçado esse sentimento dela ,por que eu só era uma criança ,não tinha maldade no pensamento .Ele morreu muito cedo ,após uma cirurgia de varizes ,sua morte precoce fez com que pedisse muito  a Deus pra não tirar ninguém ,pois perdia meu porto seguro ,e o medo da tia não me querer mais me apavorava .Na adolescência ,voltei a morar com ela .Foi uma fase de rebeldia  e revolta ,ela foi muito corajosa de me aceitar nesta momento de vida .Diante a erros e acertos, também na fase adulta ,sempre pude contar com ela .Tia Rosa casou novamente, o que me fez sofrer muito e me afastei dela e de meu primo alguns anos depois enviuvou  .Até hoje ,recorro a minha tia Rosa .Adoro sua alegria ,otimista ,o jeito de viver a vida ,as atitudes altruístas e o olhar cativante ,não envelhece ,enfim ,se tem uma mulher que amo ,tenho certeza que se chama Rosa Maria.

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