Trabalho amador
No crepúsculo vespertino de mais um dia ,na periferia da cidade ,década de oitenta, dois vultos descem a lomba ...minha mãe e eu. No intuito de cumprir mais um compromisso assumido por minha mãe com a comunidade, eu, me sentia orgulhosa em acompanhá-la. Não havia outro jeito, já que não havia ninguém que ficasse comigo em casa, então ela me levava para o seu trabalho voluntário. Minha mãe havia feito um curso básico de enfermagem, e se tornara voluntária da cruz vermelha, uma instituição filantrópica conceituada na época e único alívio para os doentes da minha vila. Nas visitas que minha mãe fazia, ela colocava em prática tudo que aprendera no curso, como: aplicações de injecções,vaporizações,curativos,além de ser conhecida por suas rezas e benzeduras ,fazia xaropes , chás e infusões caseiros. Ela costumava ter em sua maleta: pomadas,emblastos,gases,um estojo de alumínio que possuía agulhas e seringas de vidro que fervia antes de sair de casa para o caso de ter que usá-la em algum "paciente adoentado". Raras vezes, ela encaminhava para o posto de saúde ,quando sabia que não poderia sanar o problema sem que o médico examinasse, o que era geralmente reclamado pelo vizinho, pois acreditavam nos cuidados de minha mãe .Eu tinha por volta de 6 anos de idade e adorava acompanha-la, observava seu carinho ,sua atenção ,o zelo que tinha ao fazer aquele trabalho. Confidenciei uma noite, que gostaria de trabalhar como ela. Então ,ela fez um estojo de pano a mão onde eu guardava botões (no formato de comprimido grande), tecidos quadrados (no formato de gases),seringas velhas sem condição de uso, e 1 agulha estéril ,além de folhas de plantas ,das quais eu brincava de fazer chazinho com água fria. A minha "brincadeira" preferida era de ser enfermeira, minhas bonecas de pano recebiam injecções,fazia chás imaginários para receber minhas amiguinhas, curativos de fraldas no meu urso feito á mão por minha tia, e fazia a limpeza de ferimento dos amigos do meu irmão que viviam caindo da bicicleta. A maioria dos vizinhos costumavam inventar estórias para seus filhos ,sobre uma bruxa malvada que picava as crianças a noite ,normalmente nunca ficavam sabendo que na verdade era minha mãe que aplicava injeções de menta ou oleosa .Algumas mães convencia seus filhos que a fada preparou o xarope pra que ele melhorasse e mesmo que fosse amargo, elas acabavam tomando. Sendo que na verdade, minha mãe havia preparado. Minha mãe me observava e me incentivava orgulhosa ,dizia que eu levava jeito para enfermagem, pois eu geralmente consolava as crianças medicadas com paciência e ternura. Porém ,minha mãe morreu jovem, devido á um infarto fulminante, e não pode ver que ,hoje ,exerci a profissão de técnica de enfermagem ,colocando em prática tudo que vi ela fazer. Na verdade ,eu descobri que aquele "trabalho amador" da infância ,serviu como base para exercer a profissão que amo e tenho muito orgulho.
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