Negra Dalila poesias

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Sou aposentada da saúde ,sempre escrevi pequenos textos e frases desde minha infância ,leitora ,apaixonada por viagens, escrevo tudo o que sinto ,acredito em Deus ,e espero realmente que o mundo seja um lugar realmente melhor pra viver!

terça-feira, 28 de dezembro de 2021

Uma adolescente em adaptação

    Eu me dei conta que tudo que aprendera no internato como :costurar ,tricotar, ter boas maneiras, posicionar os talheres na mesa ou até mesmo rezar ,não ajudariam a preparar sequer uma refeição decente. E os primeiros pratos foram horrorosos: arroz de tão cozido se tornou um creme que se tocasse na parede grudava, a massa espaguete de tão unida ,ficaram crua e dura no interior da massa ,o feijão queimou que nem com água tirava o gosto amargo do grão. A primeira galinha que tive que matar para nos alimentar ,saiu das minhas mãos com o pescoço caído ,e a íngua pra fora cacarejando como uma galinha muito louca em tempos de carnaval e o pior :bem viva. E após meu irmão matá-la ,não sabia encontrar os ossos para fazer o corte certo para elaborar um cardápio, separar seus órgãos e saber o que utilizar ,pra mim era uma incógnita. Apesar de saber que mexer com órgãos e sangue era uma coisa interessante a fazer. Enquanto meu pai me chamava de imprestável, meu irmão me estimulava a aprender e elogiava até a tentativa de "pão borracha" que comia ou a carne semicrua mas " bem temperada" com sal. Descobri que minha mãe costumava escrever suas receitas simples em cadernos ,e tinha alguns livros de culinária que foram minha salvação nesta época de descobrimentos . Meu pai ,recuperando a saúde mas com sequelas profundas de movimentação ,assim que se pôs de pé ,passou a utilizar a pensão que  ganhava do INSS pela morte de minha mãe em grandes farras aos finais de semana ,com homens e mulheres beberrões ,que usufruíram ,inclusive ,o enxoval que ela guardava para usar quando conseguisse fazer a casa como sonhara. Não me dei conta que isto acontecia, pois estudava e me adaptava a minha nova realidade de fome ,miséria e promiscuidade que via na casa. Não concordava com que acontecia ,pois minha mente não processava o mal, por estar incutida de pensamentos católicos e ingênuos .

          A escola ginasial escolhida por mim ,ficava próxima a minha escola anterior ,porém era pública .A matéria língua inglesa não existia ,o que eu lamentava .E também a matéria ensino religioso não era obrigatório ,o que eu dava graças .Tinha poucas colegas, falava muito pouco ,não era a melhor da escola ,sempre fazia a nota necessária para passar de ano ,tinha medo de meninos e temia que alguém soubesse como e onde  eu vivia. 

       Meu pai não permitia fazer nada extra curricular ,tinha que chegar sempre no mesmo horário, senão ele gritava comigo ,e nos finais de semanas eu era quem servia as bebidas e comidas para as "visitas "dele. Limpava casa, lavava roupas, varria o pátio ,cuidava da plantação e dos animais que a cada dia diminuía ,pois faltava dinheiro para comprar alimentos e nós matávamos porcos ,galinhas até o dia que sobraram frutas e chás plantados. Já tinha dezesseis anos quando experimentei pela primeira vez álcool para passar a fome que sentia ,achei horrível ,mas fez o efeito que queria que fizesse. Não demorou muito para experimentar o cigarro mentolado e utilizá-lo de forma contínua ,meu pai não reclamou ,pois sabia que não era exemplo a ser seguido.

       Na escola era "bacana "fumar no pátio, passei a ter mais amigos ,e me interessei mais nas atividades  ,em concurso de contos e em fazer teatro ,amava jogar voleibol. Conheci o escritor Mário Quintana, após ganhar um vale fita cassete por um texto que fiz. Ele me convidou ,junto com outros colegas pra ir buscar no apartamento dele. Éramos em cinco, passamos a tarde comendo pipoca ,lendo ,e comentando  seus livros, uma pessoa simples ,sem maldades, que ensinava a escrita como um sábio.

    O meu irmão quando vinha do quartel, discutia com o pai, geralmente em relação a mim .O que quase nunca acabava bem para ele, pois  o pai batia, e ameaçava matá-lo. Os dias se seguiam, nossa casa cada vez mais vazia, apesar de passar a receber aposentadoria, meu pai vendia o que podia ,para manter as bebidas e as jogatinas em casa. Sentia que aquele lugar era um antro ,um cabaré. Num domingo de muita cachaça e jogo de cartas ,meu pai havia perdido todo seu dinheiro, quando me agarrou pelo braço e gritou a todos homens presentes na mão, que me apostaria pra quem vencesse a próxima rodada. Eu apavorada ,gritei ,me soltei e xinguei todos ,alegando em procurar a policia ,o que não fazia diferença na época. Corri para meu quarto ,me tranquei com chave e aguardei meu irmão. Que assim que soube do ocorrido, pediu que fizesse minhas trouxas que me levaria pra algum lugar. Meu irmão apanhou muito naquela noite, mas também bateu no pai alcoolizado. Em um lençol enrolei minhas roupas ,pegamos o ônibus e fui parar na minha tia, com meu irmão pedindo por ajuda ,por medo do que poderia acontecer comigo se continuasse na casa. No dia seguinte, segundo meu irmão,  nosso pai não se lembrava de nada.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

Quadrinhos e frases

 Adoro frases que fazem a gente pensar além do que está escrito. Alguns chamam de micro contos ,mas eu amo fazê-las......Pensem, reflitam e tire suas conclusões.


terça-feira, 14 de dezembro de 2021

🥇🎖🏆A minha primeira publicação e a premiação.

  A primeira vez que decidi publicar o que escrevo ,aconteceu em meados do ano de 2020 ,mas devido a pandemia ,não foi realizada a premiação. Um ano após, fui convidada para participar do evento ,cuja finalidade era a premiação .Meu nome neste livro ,significa muito pra mim ,pois ele foi o marco de uma nova fase de vida. Agora aposentada livre para divulgar o que escrevo, participando de saraus on line e lives literárias ,aprendendo , publicando poesias em livros ,só tenho a agradecer .



segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

➕ O POST MORTEN DE MINHA MÃE

 Minha mãe faleceu no dia 23 de dezembro .Na madrugada ,por volta das duas horas do dia 24 de dezembro ,fui reconhecer o corpo dela no hospital, acompanhada de minha tia mais nova. O local do morgue era sinistro ,muita escuridão após uma subida num gramado ,uma pequena peça nos fundos da área hospitalar ,com uma lâmpada ligada .Atrás de um balcão surge o funcionário com feições sonolentas ,indagando o nome da pessoa que iríamos reconhecer. Até então ,duvidava que era minha mãe ,ela havia prometido voltar pra casa. Mas ,não tinha como fugir e adentramos com o funcionário para sala dos refrigerados .Ao abrir a gaveta ,surge minha mãe :olhos fechados com a ajuda de esparadrapos ,boca arroxeadas com vestígio de sangue seco ,tez pálida ,cabeça coberta com atadura ,disfarçando o corte causado pela autopsia. Apesar do inchaço do rosto ,inacreditavelmente ,aquela era minha mãe. Saí dali impactada ,odiava o hospital psiquiátrico que a levou para morrer ,odiava aquele hospital que não conseguiu salvá-la ,"nunca mais colocaria meus pés naquele hospital" .Voltamos pra casa , minha tia e eu ,desnorteadas .Velamos minha mãe  no dia vinte e quatro de dezembro ,recebemos parte das freiras da congregação para nos apoiar ,mas haviam as vizinhas que a mal diziam pelas costas, encenado lágrimas de piedade ,enquanto em vida ,só trouxeram fofocas e preocupações para minha mãe. Esse cinismo fez com que saísse para  respirar ,fazer uma poesia e pensar nas coisas boas que podia ter feito junto com minha  mãe. Na tarde do  dia vinte e cinco de dezembro , aniversário do meu pai ,que ficou em casa por não poder caminhar  ,minha mãe foi enterrada  .Na véspera do natal ,enquanto muitas família se uniam  para comemorar, eu chorava no chuveiro ,sozinha em casa ,desconsertada com as comemorações com fogos de artifícios ,indagando a Deus ,por que o mundo era indiferente a minha dor. Com um pai acamado, necessitando de cuidados, um irmão no quartel que não ficava em casa e meu desespero de não saber nem como faria pra me alimentar no dia seguinte, pois meu pai não recebia salário pelo afastamento do trabalho ,eu queria ter morrido com ela.

Associação Poemas á Flor da Pele -3 anos de muitas poesias

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