Parte 2 -Os hospitais psiquiátricos
Convivi com minha mãe sofrendo de doença mental ou crise de nervos ,assim era chamada a depressão na década de 70 e 80 .Com o passar dos anos ,já desconfiava quando minha mãe ia entrar em crise. Quando pequena ,não entendia por que me afastavam dela .Aprendi que se minha mãe ficasse muito quieta ou contrário ,muito agitada ,ela sofreria de mais uma crise em seguida .Me sentia culpada ,por que diziam que ela recaiu de mim .Queria protegê-la de internações ,mas tinha medo do que iria acontecer .A primeira crise que ela teve comigo em casa ,me fez feliz ,pois ela comprou uma estante para colocar os livros que tínhamos embaixo de um baú no sofá ,a casa ficaria mais organizada .Chegou com uma gaita ponto, falando alto ,rindo alto, parecia feliz .Meu pai a xingava e uma vizinha chamou minha tia, que a levou para o hospital psiquiátrico público ,ela teria comprado um carro ,e feito vexame em uma rádio local, precisou do atestado pra desfazer todas as compras .Nessa internação ,ela ficou alguns dias isolada ,sem permissão de visitas .Quis visitá-la ,fiquei ansiosa ao me deparar com aqueles prédios ,em sua maioria ,mal cuidado ,janelas gradeadas ,local muito sujo ,um pequeno jardim .Na ala "Anne Dias", um setor de mulheres ,vi várias pessoas nuas ,que falavam sozinhas ,descabeladas ,urinadas ,caminhando de um lado para o outro. Apavorada ,encontrei minha mãe ,num banco de madeira próxima á uma árvore ,com movimentos de corpo repetitivos ,indo pra frente e pra trás descontrolada .Mesmo com medo de não me reconhecer ,me aproximei ,vi seu olhar perdido ,sua voz baixa ,como numa tentativa de me reconhecer .Uma moça com seios á mostra me disse que haviam forçado o banho nela ,usavam uma mangueira de pressão com água fria ,para quem se negasse a tomar banho .Aquele ambiente pra mim era hostil ,nunca tinha visto ninguém nu antes ,queria sair correndo dali ,mas minha mãe me chamou pelo meu nome ,causando confusão na minha cabeça .Sentei a seu lado e nada disse ,ficamos assim até terminar a visita .Outra experiência terrível ,foi quando ,na minha pré adolescência ,ela teve uma crise que me usou como escudo para não interná-la .Porém ,me chamava de Juliana ,na cama me abraçava e declamava diversas poesias ,tinha muita facilidade de rimar versos ,me tratava com carinho ,mas uma comadre da minha mãe ,achou que eu corria risco de vida e chamou a polícia .A imagem era terrível ,pois eu queria ficar exatamente assim, recebendo todo o seu afeto ,ouvindo suas poesias e a policia querendo me tirar dali ,até que entraram em contato com minha tia e novamente internou ,porém num conhecido hospital de saúde mental particular .Achando que tudo não passava de um engano fui visitá-la depois de quinze dias longe dela .Num prédio com diversos andares ,separados por ala :femininas ,masculinas ,drogados ,suicidas .Encontrei com olhar parado ,pupilas dilatadas ,pouca comunicação ;não parecia ser minha mãe .E ao avistar uma paciente próxima perguntei o que havia acontecido ,ela me respondeu que ela havia tomado choque na noite anterior .A única frase que minha mãe conseguiu dizer foi :"me tira daqui" .Era o ano que completaria 15 anos ,e provavelmente ,não teria a presença dela ,nem sequer festa de debutante .Mas ao contrário do que imaginei ,meu pai junto as minhas tias ,conseguiram fazer uma festa ,e minha mãe foi liberada para ir .Foi um dia lindo ,pois conversei com minha mãe ,ela me aconselhou ,falou sobre futuros namorados ,sobre planos de faculdade ,tirando a bebida ,que pra variar meu pai bebeu muito ,foi uma festa encantadora ,vi todos unidos tias fazendo os salgados e doces da festa ,e felizes por minha mãe estar conosco .Festa acabada ,minha mãe retornou para o hospital conforme combinado e nunca mais pude ouvir mais nenhum conselho dela.
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